ENTREVISTA DE PAI VALDEMIRO DE SANGO (parte 01)


REVISTA PILARES DA HISTÓRIA
MARÇO/ 2006

O senhor Valdemiro Baiano, filho de Xangô e Ogum, foi o último zelador de santo entrevistado por nós nesse trabalho. Nascido em 13 de dezembro de 1928, tem 74 anos de idade. Nascido na Bahia, veio para o Rio de Janeiro em busca de trabalho ainda na década de 30. Tem 59 anos de santo feito com senhor Cristóvão Lopes dos Anjos da nação Efon; e fez todas as obrigações de Kêtu com mãe Menininha do Gantois. Iniciou falando sobre a razão que o levou a mudar de nação no candomblé. Segundo ele:
“Efon é desse tamanhinho assim, não quis se
expandir. Eu tenho cabeça de expandir, de crescer”.
Questionamos com ele essa prática de mudar de uma nação para outra sem hesitar, e nos falou que isso é perfeitamente normal. Se você não está satisfeito, deve e pode mudar, finalizou. Sobre sua roça no Parque Fluminense, diz que foi fundada há aproximadamente 50 anos, e está para ser tombada como patrimônio histórico, situando-se na rua Moacir Almeida, no Parque Fluminense em Duque de Caxias. Quando perguntamos a ele por que uma nação como a Kêtu se expandiu tanto e outra como a Efon continuou tão pequena, relatou que é a forma que as levaram a essa situação. Disse:
“Efon é pequenininha, não desenvolveu muito,
guardam muito escondidinho, muitos não faziam, eu estou
fazendo aqui. Não dialogavam. Não abriam pra ninguém,
morriam e levavam. Hoje ainda tem gente que morre e leva”.

Segundo ele Sr. Valdemiro de Xango, esse é um problema, e que se continuar assim, vão acabar fechando, pois a nação vai minguando até acabar. O senhor Valdemiro fez santo com 15 anos de idade, hoje esse senhor tem filhos de santo espalhados em vários estados do Brasil, como Ceará, Paraná, Bahia, São Paulo e no Rio de Janeiro, vive constantemente em viagens dando assistência aos diversos filhos espalhados pelo Brasil. Ele é um zelador tão preparado que é requisitado para colocar axé nos terreiros de seus filhos e amigos. Nessa oportunidade, falamos sobre um problema sério no candomblé que os zeladores anteriormente citados nessa obra também falaram: a questão dos sacerdotes imaturos, despreparados, mas que insistiam em abrir suas casas? Ele foi claro quando disse que esses zeladores pagam caro por essas precipitações. Segundo ele, quem nos escolhe é o orixá, nós devemos seguir o chamado do orixá. Quando perguntamos sobre o que pensa do candomblé na Baixada Fluminense, nos disse assim:
“O que eu acho muito no candomblé é a desunião,
um só quer derrubar o outro. Um quer sempre mais do que outro,
o candomblé muito desunido. O protestantismo é mais unido, o
candomblé mede força. Dificilmente você encontra uma pessoa
igual a mim que diz Kitala é minha mais velha. Se você perguntar
quem é Kitala, eu digo é minha irmã, minha Ebomy”.

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