VALDEMIRO DE SANGO – UM ÍCONE DO CANDOMBLÉ BRASILEIRO.
VALDEMIRO
DE SANGO – UM ÍCONE DO CANDOMBLÉ BRASILEIRO.
Valdemiro
da Costa Pinto, (13 de dezembro de 1928 - 21 de fevereiro de 2007), O senhor
Valdemiro Baiano, filho de Xangô, foi o último zelador de santo entrevistado por nós nesse trabalho.
Nascido em 13 de dezembro de 1928, tem 74
anos de idade. Nascido na Bahia, veio para o Rio de Janeiro em busca de
trabalho ainda na década de 30. Tem 59 anos de santo feito com senhor Cristóvão
Lopes dos Anjos da nação Efon; e fez todas as obrigações de Kêtu com mãe
Menininha do Gantois. Iniciou falando sobre a razão que o levou a mudar de
nação no candomblé. Segundo ele:“Efon é desse tamanhinho assim, não quis se
expandir. Eu tenho cabeça de expandir, de crescer”. Questionamos com ele essa
prática de mudar de uma nação para outra sem hesitar, e nos falou que isso é
perfeitamente normal. Se você não está satisfeito, deve e pode mudar,
finalizou. Sobre sua roça no Parque Fluminense, diz que foi fundada há
aproximadamente 40 anos, situando-se na rua Moacir Almeida, no Parque
Fluminense em Duque de Caxias. Quando perguntamos a ele por que uma nação como
a Kêtu se expandiu tanto e outra como a Efon continuou tão pequena, relatou que
é a forma que as levaram a essa situação. Disse: “Efon é pequenininha, não
desenvolveu muito, guardam muito escondidinho, muitos não faziam, eu estou fazendo
aqui. Não dialogavam. Não abriam pra ninguém, morriam e levavam. Hoje ainda tem
gente que morre e leva”. Segundo ele esse é um problema, e que se continuar
assim, vão acabar fechando, pois a nação vai minguando até acabar. O senhor
Valdemiro fez santo com 15 anos de idade, hoje esse senhor tem filhos de santo
espalhados em vários estados do Brasil, como Ceará, Paraná, Bahia, São Paulo e
no Rio de Janeiro, vive constantemente em viagens dando assistência aos
diversos filhos espalhados pelo Brasil. Ele é um zelador tão preparado que é
requisitado para colocar axé nos terreiros de seus filhos e amigos. Nessa
oportunidade, falamos sobre um problema sério no candomblé que os zeladores
anteriormente citados nessa obra também falaram: a questão dos sacerdotes
imaturos, despreparados, mas que insistiam em abrir suas casas? Ele foi claro
quando disse que esses zeladores pagam caro por essas precipitações. Segundo
ele, quem nos escolhe é o orixá, nós devemos seguir o chamado do orixá. Quando
perguntamos sobre o que pensa do candomblé na Baixada Fluminense, nos disse
assim: “O que eu acho muito no candomblé é a desunião, um só quer derrubar o
outro. Um quer sempre mais do que outro, o candomblé é muito desunido. O protestantismo
é mais unido, o candomblé mede força. Dificilmente você encontra uma pessoa igual
a mim que diz Kitala é minha mais velha. Se você perguntar quem é Kitala, eu
digo é minha irmã, minha Egbomy”.Segundo ele, os protestantes são mais
organizados politicamente. O candomblé está sempre por baixo, mas ressaltou que
essa desunião é hereditária no candomblé, vem da África. Já as nações mediam
forças entre si e isso é próprio do candomblé, nós podemos melhorar, mas não
tem como acabar com isso. Ainda sobre o candomblé na Baixada Fluminense, o
senhor Valdemiro nos disse que desde que chegou ao Rio abriu três casas no
Estado. A primeira na cidade Rio de Janeiro, a segunda na Chacrinha, em Caxias,
e essa atual no Parque Fluminense, que está aberta há aproximadamente 40 anos.
Segundo ele, desde que chegou a Baixada Fluminense abriram várias casas. Ele
fez questão de mencionar os primeiros zeladores de santo que chegaram à
Baixada. “Quem deu início ao candomblé aqui na Baixada foi Joãozinho da Goméia.
Mas já tinha candomblé no Rio de Janeiro, tinha o de Brancolé, o de João Allabá
e o de João Abedé na cidade, na Barão de São Félix, na Central do Brasil..., no
bairro da Saúde. Depois de Joãozinho veio meu pai Cristóvão Lopes dos
Anjos...Siriaco...”Nessa oportunidade, ele nos falou sobre o preconceito que
cerca o candomblé e disse que o candomblé é uma especialidade das mulheres
contra os homens. “Candomblé na realidade é de homem e não de mulher, na África
a alawó e babalawó e os filhos da casa são ligados ao orixá do marido”. Segundo
ele, as mulheres no Brasil tomaram conta do candomblé. “Elas vieram com o mais
velho Iyanassô e Iyaxalá,com Babá Detá, quando Babá Detá morreu, elas tomaram
conta e não deixaram mais os homens sentar”. Entre os nomes de zeladores homens
citados pelo senhor Valdemiro, falou sobre o tio Bomboxé que é um dos
fundadores do candomblé no Brasil, o avô de dona Regina Bomboxé, que é uma
importante zeladora de santo na Baixada Fluminense. Dona Regina Bomboxé tem
casa no bairro Eldorado em Duque de Caxias. Infelizmente não tivemos ainda uma
oportunidade de conversar com ela. O senhor Valdemiro nos falou sobre o pai de
dona Regina, o qual se chamava Benzinho. Segundo ele, ela entende de candomblé
como ninguém. No final de nossa entrevista, o senhor Valdemiro ainda nos falou
sobre as nações que estão presentes na Baixada Fluminense. ”Kêtu só pode vim
dos Gantois, Engenho Velho, São Gonçalo, Olga do Alaketu e minha mãe Regina.
Qualquer outra casa de Kêtu só pode ter saído de uma dessas casas. Jeje tem que
vir do Bogum e da Cachoeira. Bogum é Bahia e Cachoeira é de cachoeiro. Angola
tem que vir de Mariquinha Lemba, Maria Neném, Bernardino, que era filho de
Siriaco, que tinha casa em Villar dos Telles. Efon veio com Cristóvão Lopes dos
Anjos”. Seu Valdemiro nos disse que conheceu pessoalmente esses importantes
zeladores de santo, também nos relatou ser o primeiro xangô da nação de Efon.
Quando perguntei sobre o presente e o futuro do candomblé na Baixada
Fluminense, nos respondeu assim: “O candomblé vai progredir certo ou errado.
Tem casa que eu olho, torto, vejo torto e deixo. Está cada vez pior. Vou te
dizer uma coisa, quanto mais marmoteiro, mais cresce.
Conhecido como “Waldomiro de Xangô” ou simplesmente
Baiano, apelido que ganhou no Rio de Janeiro em razão da sua origem baiana: Valdemiro
foi iniciado pelo babalorixá Cristóvão de Ogun, filho de santo de Dona Maria da
Paixão, também conhecida por Maria de Oloroke. Dona Maria e seu marido, Tio
Firmo ou Baba Erufa, ambos ex-escravos, foram os fundadores do Axé Oloroke,
tradicional terreiro da nação Efon em Salvador, Bahia. Na década de 1970 (já
com 27 anos de iniciado) passou a fazer parte da nação Ketu ao tomar suas
obrigações com Mãe Menininha do Gantois. Tornou-se um dos principais difusores
do candomblé da matriz Ketu na cidade de São Paulo e Baixada Santista do Rio de
Janeiro a partir da década de 1980.
Fundou na década de 60 o Ilê Babá Ogún Megégé Axé Barú Lepé, conhecida também por terreiro de Santo Antonio dos Pobres ou mais popularmente entre os adeptos da religião como o terreiro do Parque Fluminense, na Baixada fluminense, cidade do Rio de Janeiro. Após o falecimento de Valdemiro de Xangô (fevereiro de 2007), seu neto Sandro de Oxalá foi empossado como sucessor do terreiro do Parque Fluminense.
Fundou na década de 60 o Ilê Babá Ogún Megégé Axé Barú Lepé, conhecida também por terreiro de Santo Antonio dos Pobres ou mais popularmente entre os adeptos da religião como o terreiro do Parque Fluminense, na Baixada fluminense, cidade do Rio de Janeiro. Após o falecimento de Valdemiro de Xangô (fevereiro de 2007), seu neto Sandro de Oxalá foi empossado como sucessor do terreiro do Parque Fluminense.
REVISTA PILARES DA HISTÓRIA
MARÇO/ 2006
MARÇO/ 2006